quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Monge defende peça com Jesus travesti, após polêmica em Garanhuns e diz que espetáculo transmite amor universal pregado por Cristo

Monge beneditino Marcelo Barros falou sobre a polêmica envolvendo Jesus interpretado por atriz transexual (Foto: Reprodução/Facebook)



Com informações e texto do G1 Caruaru

Ex-secretário do arcebispo emérito de Olinda e Recife Dom Helder Câmara, o monge beneditino pernambucano Marcelo Barros defendeu a peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, encenada por uma atriz transgênero e que foi marcada por polêmica no Festival de Inverno de Garanhuns, no Agreste.

O monge afirmou, em carta postada nas redes sociais, que o espetáculo transmite o amor universal pregado por Cristo. Em entrevista ao G1, nesta quinta-feira (2), Marcelo Barros, de 73 anos, explicou que crê no Jesus que se identifica com todos os que sofrem discriminações sociais e são mal vistos pela sociedade.

“Se é para falar de Deus, é para falar de amor. Ele é universal, é inclusão. Se não for assim, é melhor ser ateu”, disse.

Para o monge beneditino, é necessário analisar o que levou a população a entrar em uma onda de intolerância e radicalismo nos aspectos político, social e religioso. “Vivemos a cultura do ódio, que não admite o pluralismo. É justamente sobre isso que devemos pensar”, apontou.

Na carta, endereçada aos cristãos de Garanhuns, Barros se coloca como um amante do evangelho. Ele diz que não teve a oportunidade de assistir ao espetáculo, encenado pela atriz Renata Carvalho, mas questiona o fato de autoridades tentarem impedir a apresentação, falando em nome da religião. A peça foi alvo de ações judiciais e chegou a ser cancelada.

O monge beneditino afirma que, independentemente da peça, “Jesus se revela presente mais na figura da atriz transexual, que transmite o amor universal que ele pregou, do que nos mantenedores de uma sociedade injusta que o papa Francisco chama do “descarte” e da indiferença para com o outro.”

No texto, Barros cita trechos da Bíblica para justificar o posicionamento. “Pouco importa a motivação, se Cristo está sendo anunciado, eu me alegro com isso” (Paulo aos filipenses 1, 18).

O monge ressalta, ainda, as mensagens de solidariedade e de luta contra a exclusão: “Aos professores da Bíblia que se julgavam mais perto de Deus, Ele chegou a dizer: os cobradores de imposto e as prostitutas chegarão antes de vocês no reino dos céus’ (Mt 21, 31)”, salientou Barros.

Marcelo Barros também diz no texto que a apresentação em outras localidades foi encarada de uma forma bem diferente. “Durante meses, essa peça foi encenada na nave de uma Igreja evangélica em Curitiba e todos os que a viram saíram da experiência comovidos pela sua mensagem de amor universal”, disse.

Por fim, Barros parabenizou e abençoou a atriz Renata Carvalho e todos os “os irmãos e irmãs que enfrentam essas tensões e mantêm sua profecia evangélica”. E mandou um recado para quem se posicionou contra o espetáculo:

“Deus não assinou contrato de exclusividade com ninguém. Queridos irmãos e irmãs, prossigam a missão de espalhar que Deus é Amor e, para nós, cristãos, Jesus Cristo é presença desse Amor que nós todos somos chamados a viver”


Motivação
Nascido em 1944, no Grande Recife, Marcelo Barros está afastado das atividades litúrgicas diárias, mas mantém um trabalho constante com entidades de assistência social. Teólogo da libertação e escritor, atua com promotores públicos para promover diálogos e ações contra a intolerância.

Também participa de um uma equipe ecumênica na Arquidiocese de Olinda e Recife e nas Comunidades Eclessiais de Bases (CEBs), além de orientação a entidades de luta pela terra. "Depois da carta, não recebi ligações de ninguém da Igreja. Tenho mais respeito por todos", declarou.

O monge beneditino integra, ainda, um grupo de seguidores do legado de Dom Helder Câmara, que se reúnem uma vez por mês, na Igreja das Fronteiras, fundada pelo arcebispo emérito, na área central do Recife.

Foi justamente após uma dessas reuniões que surgiu a ideia de redigir a carta aberta para falar sobre o amor universal e os mandamentos de Jesus. No sábado (28), depois da polêmica de proibição da apresentação, algumas pessoas perguntaram como deveriam agir diante do assunto.

“De um lado, tempos os fundamentalistas, que pregam ódio e até destroem templos de matriz africana, em nome de religião. Do outro, um cantor que subiu ao palco do festival de inverno e chamou Jesus de bicha. Não é desabafo, é apenas uma forma de refletir um pouco sobre o momento em que vivemos” declarou.

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