Garanhuns vive há muito tempo imerso em um dilema preocupante no que se refere a espaço para enterrar seus mortos, sobretudo aqueles que não tiveram, na terra, uma vida abastarda capaz de proporcionar-lhes recursos suficiente para ter um enterro digno e luxuoso em um cemitério particular. O dilema? Os dois cemitérios públicos do município praticamente não têm mais vagas para sepultamento. Mas, ao invés de agilizar a construção de um novo espaço público para resolver o problema dos mortos, o Governo Municipal se apressou em doar um terreno de 14 mil metros quadrados, no bairro Francisco Figueira, à uma funerária para que se construa um cemitério particular, com previsão de crematório e até sepultamento de pets. (ver detalhes nas imagens no final desta publicação)
O projeto de lei que autorizará ou não a doação do espaço está na Câmara Municipal para votação e, provavelmente, será aprovado, mas o problema não está na construção de um empreendimento funerário particular na cidade, (embora essa política de doação de terrenos do município a particulares precise ser revista, auditada e melhor fiscalizada), mas na prioridade zero que o poder público de Garanhuns tem dado a questão. Se a cidade não tem mais espaço disponível para a realização de sepultamentos e se, ao que tudo indica, o imbróglio é a falta de um terreno, porque não usar esse mesmo terreno doado a um particular para construir um novo cemitério público? Se a área serve para o uso privado, serve também para o uso comum, sobretudo em prol dos verdadeiros donos do terreno, os munícipes. Resumindo, não se concebe que o Governo municipal alegue não ter terreno disponível para construir um novo cemitério público, mas faça uma doação à iniciativa privada com o mesmo fim.
A abordagem da questão não tem a finalidade execrar o referido empreendimento privado, mas alertar o Governo Municipal de Garanhuns sobre a necessidade urgente de que se encontre solução para o problema de falta de vagas para sepultamento na cidade.
A empresa solicitante, cujo nome não é citado nesta publicação para evitar demonização e pré-julgamentos, está corretíssima na sua intenção de empreender e investir na cidade, e isso deve ser exaltado e incentivado. Se concluído, o cemitério particular vai gerar 20 empregos diretos e cerca de 100 indiretos, atendendo a demanda de toda uma região, entretanto, o interesse público e coletivo da população deve sempre prevalecer sobre o interesse privado e, no momento, Garanhuns clama há mais de uma década por um novo campo santo para que a conhecida expressão "descanse em paz" realmente faça sentido.
GAVETAS FORAM CONSTRUÍDAS COMO MEDIDA PALIATIVA EM GARANHUNS
Em 2019 o município construiu gavetas rotativas no cemitério São Cristóvão, no bairro da Liberdade. Os espaços são temporários e permanecem com o corpo por cerca de três anos, mas a medida é paliativa e não resolve o problema em definitivo.
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