Texto enviado ao blog V&C pelo PCB ( Partido Comunista Brasileiro)
Os indícios de envolvimento do ex-presidente Lula em esquemas de corrupção são mais
um capítulo da grave crise brasileira, marcada pelo esgotamento do governo Dilma e a
degradação política e ideológica do Partido dos Trabalhadores (PT) e seus satélites. Diante
de uma conjuntura econômica de recessão e redução das taxas de lucro, acompanhada de
uma grave crise social aprofundada pelo ajuste fiscal – com o crescimento do desemprego,
que já alcança cerca de 10 milhões de pessoas –, a burguesia passou a executar um plano,
articulado com setores da grande mídia, do Congresso Nacional e do Judiciário, para tirar o
PT do Palácio do Planalto e lançar as bases de um possível governo fundado na
aproximação do PSDB com o PMDB.
Apesar de o governo petista ter aplicado servilmente as exigências da classe dominante -
como demonstram a imposição dos cortes nos programas sociais para pagamento dos juros
da dívida aos rentistas, a lei antiterrorismo, a entrega do pré-sal, o aprofundamento das
privatizações, a reforma da previdência, os ataques aos direitos trabalhistas e o abandono
da reforma agrária -, a gravidade da crise exige, do ponto de vista dos interesses do capital,
medidas mais profundas e rápidas, diante das dificuldades do petismo em manter a política
de apassivamento das massas.
A combinação da crise econômica com a crise política torna,
neste momento, a continuidade do governo petista incômoda e desnecessária para o
“mercado”, cujos interlocutores argumentam, através da mídia burguesa, que somente
trocando de governo será possível retomar o crescimento econômico.
A evidente parcialidade da Operação Lava-Jato, que não aprofunda as investigações sobre
membros do PSDB e do PMDB – apesar de ter revelado importantes esquemas de
corrupção e mesmo aprisionado empresários –, tem promovido alguns espetáculos
midiáticos, como foi a desnecessária condução coercitiva de Lula para depoimento à Polícia
Federal. Esta parcialidade não é um fato isolado.
Para a maioria da população trabalhadora,
principalmente jovem e negra, toda abordagem pela polícia é sempre coercitiva e sem
qualquer formalidade, assistência jurídica e muito menos o “devido processo legal”; não
raramente, acaba em arbitrariedade ou morte, como provam crescentes estatísticas dos
famigerados autos de resistência.
A corrupção é a forma mais aparente das relações promíscuas entre o Estado burguês e os
interesses econômicos capitalistas.
O plano de mudança de governo do qual a Lava-Jato é
apenas uma peça, portanto, não é um golpe contra a institucionalidade liberal-burguesa,
mas uma das vias no interior dessa institucionalidade para a imposição de governantes que
melhor atendam, circunstancialmente, os interesses do capital. Isto não significa
subestimarmos, neste quadro, as tendências a mais restrições no campo das liberdades
democráticas que a burguesia tentará impor cada vez mais para fazer frente ao acirramento
da luta de classes que a crise do capitalismo engendra.
A decisão da burguesia de livrar-se do governo petista por meio do impedimento ou da
renúncia negociada da Presidente e de inviabilizar, por via judicial, uma futura candidatura
de Lula em 2018 não justifica a defesa do governo Dilma nem do ex-presidente por parte
da esquerda socialista, porque não nos faz esquecer a opção política da cúpula do PT pelo
caminho do pacto social burguês, como se comprova desde a Carta aos Brasileiros, em
2002, e o zeloso atendimento aos interesses dos bancos, da indústria automobilística, do
agronegócio, das empreiteiras e mineradoras. Não nos cabe afiançar uma suposta inocência
de Lula e outros líderes petistas e menos ainda de imaginar que investigações sobre eles
coloquem a democracia burguesa em risco, mas de fazermos uma profunda crítica à
estratégia de conciliação de classes adotada pelo PT, a qual, aprofundada nos últimos 14
anos, agora se volta contra ele.
Diante disso, o PCB não vê razões para alterar sua postura de independência de classe e
oposição de esquerda ao atual governo, sobre o qual o ex-presidente Lula nunca deixou de
influenciar diretamente.
O PT preparou o próprio terreno pantanoso em que agora se
afunda, ao ter optado por reforçar o Estado Burguês, enquanto retirava direitos dos
trabalhadores. Por fim, o PCB não reforçará o culto despolitizado, personalista e saudosista
de uma liderança que, através de seu carisma, utilizou o apoio dos trabalhadores para
operar uma política que privilegiou os interesses capitalistas. Tampouco nos somaremos a
iniciativas pretensamente dedicadas à defesa da democracia com aqueles que, nos últimos
tempos, a vêm golpeando em troca da governabilidade a qualquer custo. Conclamamos à
formação de um bloco de lutas de caráter anticapitalista e socialista, para resistir aos ataques
do capital e avançar na perspectiva da construção do Poder Popular e do Socialismo.
PCB - Partido Comunista Brasileiro, com apoio do PCB de Garanhuns/PE
Comissão Política Nacional - 6 de março de 2016.
Acesse nosso blog: www.pcbgaranhuns21.blogspot.com
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