sexta-feira, 15 de maio de 2015

Empresa que comprou fábrica da Bom Gosto em Garanhuns e a arrendou para a Nestlé DPA recusa diálogo e deixa funcionários inseguros quanto ao cumprimento de obrigações trabalhistas

Entrada da Antiga Bom Gosto em Garanhuns, atualmente arrendada à Nestlé DPA

Seis meses depois de a ARC assumir a planta da fábrica de laticínios Bom Gosto em Garanhuns, a situação dos funcionários, no que tange ao cumprimento de encargos e obrigações trabalhistas, ainda é uma incógnita. A nova proprietária arrematou a planta de Garanhuns por 50 milhões de reais e arrendou para a Nestlé DPA, mas parece ter relegado a segundo plano a resolução da situação dos cerca de 130 funcionários da antiga Bom Gosto. A prova disso, foi a falta de diálogo da ARC durante uma reunião em São Paulo na última quarta-feira, 13 de maio, onde participaram representantes de sindicatos da antiga Bom Gosto, o administrador judicial e a própria ARC.

Na pauta da discussão, os principais temas foram o acordo coletivo e o plano de demissão voluntária. "Na reunião em São Paulo houve grande dificuldade para negociar o acordo coletivo (dissídio) que já estava atrasado desde outubro passado ( data base)", disse um funcionário que preferiu não se identificar. De fato. Com data base em outubro, a ARC disse que não poderia pagar de uma só vez o acordo coletivo. O aumento foi baseado na correção da inflação do período, que foi de 6,25%,  mas a empresa propôs dividir o pagamento retroativo em seis vezes, o que irritou os funcionários da antiga Bom Gosto.

Quanto ao plano de demissão voluntária, o resultado foi ainda mais desanimador. A ARC havia se comprometido a discutí-lo, mas na reunião, com a presença do administrador judicial, a empresa sequer aceitou tratar do assunto. "O plano de demissão voluntária seria um dos instrumentos adequados  para uma resolução menos traumática para os trabalhadores, mas,  infelizmente, a ARC, que havia se comprometido a discutir os moldes da medida, deu pra trás," desabafou um funcionário. 


FUTURO INCERTO

Como se não bastasse a intransigência da ARC durante a reunião em São Paulo, no que tange a cumprir com as obrigações e encargos trabalhistas inerentes a uma negociação dessa monta, os funcionários têm passado por poucas e boas desde que a Bom Gosto foi vendida, em outubro do ano passado. Com a produção parada, o  local virou uma planta fantasma após a venda. Os trabalhadores iam à fábrica apenas para assinar o ponto. Em dezembro de 2014, a ARC anunciou que arrendaria todo o prédio para a Nestlé DPA. Com a ocupação em definitivo, os funcionários foram dispensados, mas tiveram assegurada uma estabilidade que vai durar até outubro, após isso, todo mundo será demitido. É aí que reside o problema. Com a recusa da ARC em aderir ao plano de demissão voluntária, e com a saída do administrador judicial do processo, também partir de outubro, os trabalhadores temem que a empresa apresente empecilhos na negociação para pagar os encargos trabalhistas relativos às demissões que se aproximam. Outro problema, diz respeito a alguns funcionários da ARC absorvidos pela Nestlé DPA. Com situação irregular, eles esperam serem efetivados pela DPA. As duas empresas marcaram reunião para discutir especificamente o caso destes trabalhadores e o que se espera é que o desfecho seja positivo. 

Como se não bastasse toda a insegurança, direitos básicos, como vale alimentação e plano de saúde foram afetados. Com relação ao plano de saúde, o benefício foi suspenso, só voltando após um protesto por parte dos trabalhadores na frente da fábrica no dia 19 de março. O plano normal foi restabelecido, mas o odontológico foi cortado. Já o vale alimentação, que deveria ter sido reajustado, permanece nos tacanhos 130 reais.

Protesto de funcionários em frente à fábrica em
19 de março pedia cumprimento de acordo judicial


ENTENDA O CASO 

A LBR (Lactéos do Brasil), grupo do qual a Bom Gosto faz parte, entrou em recuperação judicial. Após um longo e intricado processo, a empresa esquartejou suas unidades e as vendeu para vários grupos do ramo de laticínios apurando mais de 500 milhões de reais. A Bom Gosto em Garanhuns foi vendida à  ARC que a arrematou junto com o conjunto de outras plantas em várias cidades do país. Três meses após a compra, a empresa  arrendou o prédio completo para a Nestlé DPA, que absorveu apenas alguns funcionários da antiga Bom Gosto, diferentemente de outras plantas da LBR compradas e arrendadas pela ARC, onde a absorvição foi bem mais acentuada pela arrendatária. 

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