domingo, 27 de janeiro de 2013

MPPE cria rede de proteção aos idosos em Garanhuns

Aos 90 anos, cabelos brancos, agasalhada com um casaco de frio e sentada numa cadeira de balanço, dona Anastácia Brasil vê o tempo passar no abrigo São Vicente de Paulo, em Garanhuns, no Agreste do Estado, rodeada de outras senhorinhas com idades quase iguais a dela. Dona Anastácia é uma das dez mulheres enviadas para a unidade de acolhimento pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), através da 5ª Circunscrição que funciona no município. Apesar de ter chegado no abrigo na segunda-feira, dia 7 de janeiro, a anciã não pensa em voltar para casa. “Lá era maltratada, xingada e vivia embolando de um lugar para outro”, recorda com perfeita lucidez. “Aqui, todas gostam de mim e eu gosto delas”. Como as outras nove enviadas pelo MPPE para o espaço de acolhimento, ela é o retrato de uma triste realidade: a violência contra a pessoa idosa.

Este exemplo, como os demais que podem ser encontrados no abrigo São Vicente de Paulo, e o constante número de idosos vítimas de maus-tratos e abandono que procuravam ou eram encaminhados para a 5ª Circunscrição em Garanhuns, especificamente à Promotoria de Defesa da Cidadania, chamou a atenção do promotor de Justiça Alexandre Augusto Bezerra, responsável pela Promotoria, que passou a tratar os casos de forma específica.

Paralelamente ao número de novos idosos vítima de maus-tratos, o promotor percebeu que havia uma reincidência nos casos antigos porque não havia uma solução para eles. “Não eram tratados da maneira adequada, o que exigia uma forma diferente de abordagem do problema”, conta Alexandre Bezerra. O promotor teve então a ideia de criar uma rede de proteção envolvendo outras instituições públicas e privadas que já trabalhavam isoladamente com o tema.

PROPOSTAS
Foi realizada uma reunião em novembro do ano passado com a presença de representantes do Governo do Estado, prefeitura, igrejas, conselhos municipais – principalmente o do idoso – e organizações não-governamentais para discutir o tema. Ficou decidido pela criação de uma comissão executiva encarregada de elaborar um plano com ações para o enfrentamento à violência contra a pessoa idosa.

O plano foi finalizado em dezembro do ano passado, contendo ações preventivas e curativas. Entre outras iniciativas, são propostas a criação de um centro de convivência para idosos, definição de uma política pública municipal para eles e a formação de cuidadores que possam atendê-los adequadamente. Para apresentá-lo aos demais integrantes da rede de proteção, o MPPE agendou uma reunião para a primeira semana de fevereiro. “O nosso objetivo é atacar o problema de frente para impedir a ocorrência de situações que coloquem o idoso sob qualquer espécie de risco”, frisa Alexandre Bezerra.

A dura realidade da violência contra a pessoa idosa é também conhecida de perto pela Irmã Fabíola Alencar Furtado, da congregação Filhas de Caridade São Vicente de Paulo que conduz o abrigo em Garanhuns. Abandono, maus-tratos e solidão são fatores recorrentes entre as 64 mulheres abrigadas pela instituição. “Aqui, elas são tratadas com humanidade”, diz Irmã Fabíola. O abrigo, que existe há 54 anos, é uma referência na região Agreste e atende somente mulheres. Para abrigar o homem idoso com direitos violados, a congregação começará a construção de uma unidade a partir do próximo mês de março. Atualmente, o homem idoso vítima de maus-tratos, que procura o MPPE em Garanhuns, é encaminhado para um abrigo na cidade vizinha de Bom Conselho.

Folha Pe

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