quinta-feira, 6 de agosto de 2020

O ADEUS A JÚNIOR CHAVES E A DOR DE QUEM PERDE UM FAMILIAR PARA A DOENÇA QUE JÁ MATOU QUASE 7 MIL PESSOAS EM PERNAMBUCO: "Perdi meu companheiro, minha vida, meu amor", diz esposa de homem que morreu vítima de covid-19 em Garanhuns

Junior Chave e sua esposa, Luciana
Foto - Arquivo Pessoal

Garanhuns viveu entre a sexta, 31 de julho, e o domingo, 02 de agosto, um dos finais de semana mais dramáticos em relação à mortes provocadas pela covid-19. Na sexta, pai e filho morreram com um intervalo de menos de meia hora entre os dois óbitos. No sábado, marido e mulher, já idosos, não resistiram às complicações causadas pela doença e faleceram. No meio dessas duas tragédias familiares, a cidade ainda seria surpreendida por uma outra perda. Francisco Chaves dos Santos, o popular Júnior Chaves, de 54 anos, faleceu no domingo, 02/08, também em decorrência de complicações causadas pelo novo coronavírus, deixando uma dor descomunal e imensurável no coração daqueles que o amavam. 

Quatro dias após aquele final de semana terrível, Luciana, a esposa de Júnior, tenta se reerguer, mas não está sendo fácil. As lembranças de  mais de 30 anos de uma união marcada por alegrias, amor e companheirismo, em contraponto à forma repentina e dramática como o marido perdeu a luta contra a covid-19, abriram uma ferida emocional nela e em sua família que ainda vai demorar muito a cicatrizar.  


Júnior Chaves com a família
Foto: arquivo pessoal
Na última terça feira, 04 de agosto, conversamos com Luciana, que fez um relato emocionante dos seus últimos momentos ao lado do esposo e de como ele sucumbiu à uma doença que continua infligindo  sofrimento a milhares de famílias no país. CONFIRA ABAIXO OS PRINCIPAIS TRECHOS DA CONVERSA


MARIDO, PAI E AVÔ EXEMPLAR 
Júnior Chaves é citado pela espola como um marido, pai e avô exemplar, cheio de vida e brincalhão, que deixou muitos sonhos pra trás. "Ele tinha muito a realizar.  Sonhava em viajar com minha mãe quando melhorasse. Era um homem incrível, batalhador, chato nas horas de ser chato, amoroso nas horas que era preciso ser. Alegre e comunicativo, era muito conhecido e adorava comemorar momentos felizes com os amigos. E amigos ele tinha muitos. Fazia amizade até com o vento, inclusive com as crianças" frisou a viúva. Já a filha revelou que Júnior só tinha um neto, mas vivia pedindo mais a ela e ao irmão. Conta emocionada que Júnior tinha uma relação especial e um carinho grande pelas crianças, que o chamavam de Tio do Pirulito.  "Meu pai amava muito todos nós. Simplesmente partiu e agora fica como legado os ensinamentos que ele deixou. Está sendo horrível lidar com essa perda tão grande. Ele se foi, o covid-19 o levou e levou um pedaço de nós junto", revelou a filha.


ELE NÃO ACREDITAVA NA GRAVIDADE DA PANDEMIA
Emocionada, Luciana, a esposa, disse que Júnior, inicialmente não acreditou na gravidade da pandemia. "Ele lutou até onde podia e não se entregou em nenhum momento, mas o fato é que meu marido não respeitou a gravidade da pandemia. Chamava a covid-19 de Corolla e quando saía dizia que ia dar uma volta de Corolla. De fato, acabou fazendo uma viagem de “Corolla”, só que, desta vez, não voltará mais", desabafou a viúva.


SINTOMAS COMEÇARAM FINAL DE JUNHO, E PRIMEIRO TESTE PARA COVID-19 DEU FALSO NEGATIVO
Os sintomas que culminaram com a morte de Júnior começaram no final de junho, inicialmente com uma falta de ar. "Brigamos pra levá-lo ao médico, mas ele se recusou. Inicialmente porque ele não gostava de ir ao médico e começou a tomar remédio por conta própria, acreditando que iria se recuperar sozinho. Segundo, porque o primeiro teste da covid dele, feito dia 17 de julho, deu negativo. Entretanto, nós enquanto família tínhamos certeza que era um falso negativo, pois os sintomas só aumentavam todos os dias com uma tosse forte que não parava", revelou Luciana. 

LUCIANA DIZ QUE ESPOSO IGNOROU O ISOLAMENTO
Mesmo com os problemas de saúde se agravando, Luciana revelou que Júnior continuou lutando contra o óbvio. Que algo estava errado com seu corpo e que era preciso procurar ajuda médica. A viúva disse que, mesmo debilitado e com sintomas de covid-19, o esposo saia de casa, ignorando o isolamento, fato que era desaprovado por todos da família.

A INTERNAÇÃO EM UM DIA E A MORTE NO OUTRO
"No dia 31 de julho meu esposo estava muito mal, muito mal mesmo, sem conseguir dormir, sentindo falta de ar e tosse. Mesmo assim, teimoso como era, só no dia seguinte, no sábado, 01 de agosto,  ele resolveu procurar um médico aqui no posto de saúde. Como já estava muito debilitado, foi encaminhado direto para a UPAE, onde foi diagnosticado com o vírus, já ficando internado".

A ÚLTIMA CONVERSA COM O MARIDO FOI POR VÍDEO CHAMADA
 Luciana conta que, no sábado, 01 de agosto, a equipe da UPAE fez uma vídeo chamada para a família e que na ligação viu um Júnior aparentemente bem. A esposa revelou que, ao ver o marido sem estar intubado, e de bom humor, achou que o pior já havia passado. O desfecho, infelizmente, não seria assim. Na madrugada, por complicações ocasionadas pela covid-19, Júnior teve uma parada cardíaca. Reanimado, foi transferido para o Hospital Dom Moura. Ele ainda chegou a ser intubado, mas teve uma parada cardiorrespiratória por volta das 05h30min do domingo, 02 de agosto e faleceu. "Essa doença é assim. Uma vez diagnosticada, ela vai comprometendo os órgãos vitais. No caso do meu marido, ela comprometeu o coração levando-o à morte. Descobrimos após exames que ele era diabético e, possivelmente, tinha pressão alta. Isso deve ter contribuído para o desfecho que ninguém esperava", disse Luciana.

 A FALTA DE  UMA DESPEDIDA DÓI
Uma das coisas que tem dificultado a superação para aqueles que perdem alguém para a covid-19 é a falta de uma despedida. O paciente acometido com o vírus é imediatamente isolado de seus parentes, privando-o do calor humano, do abraço, do afago, de um aperto na mão dos que o amam. Na morte ocorre o mesmo. Não há velório e o enterro é realizado às pressas, logo após o óbito. "Não tive oportunidade de me despedir dele. A última vez que falei com meu marido foi através de vídeo chamada e, no outro dia, ele morreu. O que me dói mais é não termos podido dar a ele um velório e um enterro digno, como ele merecia.  Perdi meu marido muito rápido e dói muito não poder ter dado adeus", desabafou Luciana. 

A viúva encerrou a conversa com o portal pedindo às pessoas para não ignorarem a covid-19. "A doença é gravíssima e perigosa.  Ela nos tira, de maneira repentina, as pessoas que mais amamos  e isso é terrível", encerrou, Luciana. Até o fechamento desta publicação, Garanhuns já havia registrado 51 vítimas da covid-19. Francisco Chaves dos Santos foi a 49ª. Triste estatística.


Luciana prestou homenagem ao esposo em uma rede social

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