quarta-feira, 20 de junho de 2018

Pacientes de Garanhuns em tratamento médico fora do domicílio reclamam de mau atendimento e da falta de uma casa de apoio para acolhê-los no Recife


Não é fácil a vida dos pacientes de Garanhuns que precisam se deslocar ao Recife para tratamento médico. Muitos destes vêm  procurando o V&C há algum tempo para reclamar que estão encontrando dificuldades em marcar as viagens através do TFD (Transporte Fora do Domicílio), que é um serviço oferecido pela prefeitura aos doentes e acompanhantes que não têm condições de se deslocar à capital com recursos próprios. 

Mesmo com uma frota composta por um ônibus, dois micro-ônibus, duas ambulâncias e um carro de passeio, este último incorporado, segundo informações, por ordem judicial, a demanda de pacientes tem sido maior que a oferta de veículos e isso tem gerado transtorno nas marcações da viagem. ''A Secretaria de Saúde falou certa vez que nós que dependemos deste serviço vamos cedo porque gostamos de fila, mas é que tem uma quantidade de fichas que eles disponibilizam para gente marcar. Se você chegar oito horas da manhã não pega mais vaga. Não é que a gente goste de fila é que não tem quem nos atenda direito'', desabafou uma usuária que preferiu ficar no anonimato. Mau atendimento é uma das queixas mais constantes dos usuários, sobretudo à noite, quando eles se reúnem no Centro Administrativo para esperarem à saída para a capital, que geralmente acontece uma da manhã. Um grupo reclamou da dificuldade de comunicação entre paciente e motorista quando as consultas terminam na capital.  

"Queria que vocês pudessem ir lá um dia e filmar as coisas que acontecem ali no TFD. As pessoas abusam do poder que tem humilhando os pacientes na hora da saída. É um mau tratamento que nos deixam bastante agitados", frisou uma paciente que utiliza o serviçoOutra revelou que não é sempre que  se pode levar acompanhante. "Existe uma triagem que é feita no TFD. Se eles virem que você pode se virar sozinha durante a viagem eles cortam a vaga deste acompanhante, disse.
Usuários em fila de atendimento
para o TFD em Garanhuns

MPPE E PREFEITURA FIRMARAM TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA PARA NORMALIZAR O TDF NO MUNICÍPIO
 Em fevereiro deste ano, após um termo de ajustamento de conduta assinado entre a 1ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania e a Prefeitura de Garanhuns, ficou estabelecido que esta última normalizaria o TDF no município dentro de 30 dias, prevendo inclusive o fluxo do atendimento; prazos para agendamento; prioridades em casos de conflito entre a demanda e as possibilidades da prefeitura; critérios para aferição e filtragem da necessidade do transporte individual e a execução; e responsabilização administrativa funcional para o descumprimento dessas normas entre outras melhorias.  O MPPE ainda ressaltou a necessidade de aquisição via licitação de quatro ambulâncias para atender a demanda crescente da população. CONFIRA A ÍNTEGRA DO DOCUMENTO CLICANDO AQUI 
Sede do MPPE em Garanhuns

FALTA DE UMA CASA DE APOIO NA CAPITAL
Outra reclamação que está ligada diretamente com o assunto do TDF e a própria Secretaria Municipal de Saúde, por tratar-se de benefício que proporcionará uma melhor assistência à população carente de Garanhuns, é a falta de uma casa de apoio do município no Recife, onde vários pacientes fazem tratamento de saúde. Do mesmo modo, os acompanhantes que auxiliam seus familiares durante internações precisam de um local de apoio para descansar e tomar banho, já que muitas vezes duas ou mais pessoas se revesam no acompanhamento ao doente no leito dos hospitais.

Como se não bastasse o momento psicológico difícil pelo qual passa alguém que precisa estar um determinado número de dias em Recife para lutar contra câncer ou uma outra enfermidade igualmente grave, ainda há por parte deste paciente o medo e preocupação de não ter onde ficar durante o tratamento, que às vezes demora mais de um mês.  

Municípios menores do Agreste e sertão do estado mantém casas de apoio na capital acolhendo e orientando seus cidadãos enfermos, muitas vezes com equipes os auxiliando na marcação de consultas. Já Garanhuns, com seus cerca de 150 mil habitantes, não disponibiliza esse importante serviço aos munícipes. Segundo alguns pacientes, esse sofrimento causado pela falta de uma casa de apoio não é um problema novo. Se arrasta há anos passando pelas administrações anteriores em uma clara indicação que os gestores municipais não têm priorizado nem se empenhado em resolver esse problema, que não deixa de ser uma questão humanitária. 

O estudante garanhuense Sergio Rodolfo faz tratamento intensivo no IMIP há cerca de um ano e já necessitou  por diversas vezes de uma casa de apoio que o acolhesse. "Me sinto desassistido. As vezes precisamos passar dois dias no Recife e quase nunca  temos  onde ficar. Não temos o direito que é garantido por uma portaria e não estamos pedindo nada; estamos pedindo somente aquilo que é um direito do cidadão. A saúde é sucateada  e os nossos direitos estão sendo lesados. Esse é o sentimento que a gente tem. Eu precisei lutar dois meses na justiça para garantir o direito de ficar em uma pousada paga pelo município. Acionei o MP, que por sua vez notificou o TFD. Depois fui para a Defensoria Pública. Foi muito desgastante," desabafou o jovem.

Procurado pelo blog para esclarecer a questão, o Governo Municipal ressaltou que disponibiliza, por meio da Secretaria de Saúde, para os que necessitam permanecer no Recife, o acolhimento em uma pousada licitada pela prefeitura. O imóvel está localizado no bairro de Santo Amaro. O benefício é oferecido desde 2015 e disponibiliza, além da estadia, três refeições diárias para os pacientes. 

O problema com relação a pousada são dois. Primeiro, com a pouca ou quase nenhuma divulgação, somente alguns do que necessitam realmente de estadia no Recife para tratamento de saúde sabem sobre este benefício, um papel que deveria ser feito com mais ênfase pela assistência social. Segundo, é que um pensionato não supre a ausência de uma casa de apoio porque esta última tem uma importância que vai muito além de um teto para ficar. A casa de apoio também tem a finalidade de tornar a permanência do doente e seus acompanhantes mais humanizada. Se for completa, com uma equipe de profissionais treinados, como psicólogos e assistente sociais, pode ser de muita valia para os pacientes, tanto no apoio psicológico como no auxílio às marcações das consultas nos hospitais e clínicas do Recife, além é claro de ter uma estadia mais confortável e digna.

"Desde 2011 que viajo pra Recife e nunca existiu casa de apoio de Garanhuns. A casa de apoio que temos lá são os pés de pau pra esperar. As vezes ficamos na casa de apoio de Saloá", frisou uma paciente que afirmou não saber da existência da pousada mencionada pelo município, em entrevista concedida há alguns dias à Rádio Sete Colinas.  


Ao Blog V&C, a usuária Norma Cavalcanti Campos disse que utiliza o TFD há 20 anos e faz tratamento no IMIP, Hospital das Clínicas, entre outros. Segundo ela, muita coisa precisa mudar nesse serviço. "Na secretaria tudo piora pra nós usuários. Nunca teve casa de apoio e essa pousada não sei nem onde é. O pessoal da secretaria acha que é fácil, mas vá passar um dia lá pra ver se é fácil. Eu ficava muito em hotel lá, mas por minha conta. Tem que averiguar quem dá as ordens aos motoristas  porque não sei se a secretária tá sabendo do que está acontecendo em relação ao TDF", desabafou. Já Mércia Godoi faz tratamento há 17 anos no Hospital Barão do Lucena. "Tive que marcar um exame que era às 19 horas e precisei dormir no Recife. Ainda conversei com a assistência social, mas não fui informada dessa pousada. Faz 17 anos que viajo, mas nunca soube desse local, nem onde fica," salientou a paciente.

Usuários aguardam atendimento do TFD no
centro administrativo I, em Garanhuns

"Minha filha tem quatro anos e faz tratamento contra a leucemia no IMIP.  Ontem acabei a consulta às 10h30min e liguei para o motorista do TFD. Eu queria saber se ele ia demorar porque, caso fosse, eu iria para uma pousada determinada pelo MP em casos de espera longa. O telefone estava desligado. Liguei para o chefe de transporte, ele disse que ia ver e não me retornou. O outro paciente ia ser atendido somente uma da tarde. Das 10 às 14 horas fiquei em um banco de hospital esperando. Minha filha não pode ficar exposta devido a baixa imunidade e a quimio que ela faz. O pessoal da prefeitura sempre entra em acordo, diz que vai ser daquele jeito, que eles podem resolver mas, a verdade é que eles nunca nos ouve. Somos maltratados. Eu irei novamente procurar o promotor pois eu, como mãe, já estou no limite, exausta, cansada com esse descaso. Só queria que eles dessem a atenção necessária pois ela (a filha) já passou por muita coisa. Queria que todos pudessem ter seu direito a uma casa de apoio ou que liberassem para todos essa pousada pois é um sofrimento para todas as famílias," disse ao V&C Marianah Stephanny, moradora do bairro da Boa Vista aqui em Garanhuns.

DISCUSSÃO CHEGOU À CÂMARA DE VEREADORES

A discussão sobre a necessidade de uma casa de apoio para o município de Garanhuns chegou à Câmara de vereadores onde um projeto oriundo do legislativo chegou a ser apresentado, mas não foi à frente pelo fato de matéria financeira ser de competência exclusiva do Executivo que pode, caso queira, enviar um Projeto de Lei à Casa Raimundo de Moraes propondo uma licitação para a instalação do serviço.  Segundo estimativas, o custo mensal de uma casa de apoio  seria de  cerca de 20 mil reais para os cofres públicos.


Diante de toda essa problemática, fica o apelo para que o município faça uma campanha de divulgação sobre a existência da pousada no Recife, que tem o nome de Solar do Lazer e fica no bairro de Santo Amaro. (ver foto abaixo) Esse serviço deve servir como um suporte paliativo, que não substitui a necessidade de que a atual administração atenda aos anseios da população e entregue uma casa de apoio completa aos pacientes e acompanhantes que sofrem em busca de tratamento de saúde na capital. Mas do que uma necessidade, a implantação deste benefício é uma questão humanitária e de dignidade.  Muitos dos que se deslocam em busca de melhores recursos para sua saúde não têm sequer dinheiro para prover a sua alimentação, quanto mais para uma hospedagem prolongada. É preciso acolher e assistir nossos doentes e isso compete sobretudo ao poder público.
Pousada Solar do Lazer, no Recife


ABAIXO A NOTA DA PREFEITURA DE GARANHUNS SOBRE A POUSADA  E CASA DE APOIO. 

Nota de resposta — Estadia de pacientes no Recife

A Prefeitura de Garanhuns informa que atualmente não existe previsão para construção de uma casa de apoio no Recife. Para atender a demanda dos pacientes que necessitam ir à capital para realizar tratamento, o Governo Municipal disponibiliza, por meio da Secretaria de Saúde, o translado de ida e volta pelos veículos do Tratamento Fora do Domicílio (TFD). Para os que têm de permanecer na cidade, é disponibilizado o acolhimento em um pensionato licitado pela Prefeitura, e que está localizado no bairro de Santo Amaro. O serviço é oferecido desde 2015, disponibiliza além da estadia, três refeições diárias para os pacientes.

A pasta ressalta que havendo a necessidade de tratamento continuado dos pacientes, ou que ultrapasse o horário das 16h, no qual seja necessária a estadia na capital, o paciente pode realizar a solicitação de hospedagem no pensionato. O procedimento pode ser feito diretamente na sede do Tratamento Fora do Domicílio (TFD) em Garanhuns, com uma das assistentes sociais do serviço, desde que o paciente apresente algum laudo médico que ateste a necessidade.


Sobre as reclamações do TFD, o blog está à disposição do Governo Municipal para prestar os esclarecimentos necessários
 

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